sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ouse!!!

Ouse, ouse... Ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!

Lou Andréas Salomé

domingo, 25 de julho de 2010

Anjos derrotados

Se somos anjos que perdemos as asas, anjos caídos, imagem e semelhança do Criador, enfim, me sinto um quase anjo derrotado. E acho que é isso que a humanidade toda sente ao se deparar com tanta violência e açoites à integridade física e mental presenciadas quase em tempo real nas TV´s, sites, blogs, rádio. A mídia transforma a linearidade do tempo e torna tudo presente quand quer e quando quer também transforma tudo em passado (veja que não se fala mais do goleiro Bruno e a notícia da hora é a morte do filho de Cissa Guimarães). Bom, mas não quero falar da mídia, essa serpente que torna o impossível possível e vice versa.
Falo do sentimento particular de derrota ao ver tanta frieza nas ações humanas, nos atos de violência e estupidez que nos ronda. Essa porção anjo sabemos que vem acompanhada de uma porção má também. Mas quando esta última se sobressai o que dá pra perceber é que o processo de humanização, de aperfeiçoamento espiritual, cultural, estético já alçados pela humanidade nesses milhares de anos nos faz deparar com a primitividade da violência, com a capacidade de racionalizar a maldade e de sofisticar os meios de inflingi-la a outro ser humano. Ao ver essas histórias de Mércia Nakashima, Eliza Samúdio, assistimos coletivamente a um espetáculo onde quem perde somos nós humanos, todos. Sei que são histórias distantes de nós, mas acabo me solidarizando com a dor de quem foi enganado, sacrificado em nome de interesses puramente materiais. O sentimento de derrota é reforçado a cada dia também quando vemos a política eleitoral aperfeiçoando seus meios de manipular os "pobres", o péssimo atendimento do serviço público, a destruição ambiental com a conivência dos governantes...são tantos exemplos que me sinto pessimista em relação ao ser humano. Sei que isso não é bom, mas é como me sinto nessas últimas semanas.
Um abraço a todos e todas.

sábado, 26 de junho de 2010

Invencionices sertanejas II



As cercas de D. Ana já de longe se avista
A silhueta delgada, sobre a sombra de tez rugosa
Mãos de aparas, mãos de mãe, mãos de feitura de mundos sem limites
Faxinando a terra, a rua, o curral, Faxinando esse sertão todo que nem cabe em mim...

Elina Carvalho






Cerca de faxina muito bem entrameada
por D. Ana, 85 anos bem vividos,
moradora da Fazenda Soledade I, Acari/RN,

terça-feira, 15 de junho de 2010

Invencionices sertanejas I


Onde falta tecnologia sobra criatividade
Onde falta segurança sobra inventividade.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mais uma do Seridó


Sertão do Acauã

pasto e esteira

lisa faca, couro

arreios, Serra

Catingueira e panejo encarnado

marcando com seus seco bordado

Uma saudade antiga de não sei que terra.

domingo, 6 de junho de 2010

Sobre a felicidade

Ao receber um texto de Vásquez sobre a Ética e a Felicidade do Prof. Mário Amorim, fiquei tentada a escrever uma releitura, com base na minha própria busca de felicidade. Fiz uma relação com um momento especial, em que pudemos visitar o Abrigo de Idosos de nossa cidade e compartilhar um pouco de nossa alegria com música e poesia. Nesse mesmo dia à noite, fizemos o mesmo na sede do Casarão e realizamos nossa Noite de Poesia do mês de junho.
A ponte tecida entre o ideal de felicidade e a real felicidade tem em seus vãos muito o que se realizar, sejam as condições concretas, o direito humano de sonhar e ousar ser feliz em tempos de tempestade e a própria busca de felicidade. Mas também existe o referencial de felicidade que traçamos nas nossas vidas. Escolher fazer feliz o outro pode, por resultado, nos trazer a própria felicidade...por mais que nossos olhos se turvem e em alguns momentos não sejamos capazes de nos enxergar como seres que podem ser felizes fazendo os outros felizes, precisamos ser resistentes, fortes e vislumbrar um outro ideal de sociedade, com outras condições concretas, mas também despertar em nós a necessidade de uma autêntica felicidade.
Ontem, foi um dia especial,por poder compartilhar com outras pessoas a crença de que a feleicidade é possível com a doação de si. Sim, nós somos capazes de despertar capacidades adormecidas, sensibilidades alteradas, corpos extenuados, para, num momento só, despertar a capacidade de ser feliz.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pelos sertões do Seridó II

Fazenda Acauã, Acari/RN, por entre arames e capins, a Serra d´Acauã impõe sua beleza.

Gramatura de terra


fineza de água correndo nos vãos dos serrotes cinzas


curvas açoitadas pela visagem de um açude...


terra minha, explodida, mineral, quente


surpreendida pela presença onipotente das serras doídas


na vista de uma visitante e filha


que pertence


e ao mesmo tempo desconhece a origem de sua beleza.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pelos sertões do Seridó


Compartilhando uma de minhas poesias feitas nessas releituras de sertão, Oswaldo Lamartine, Ariano Suassuna e de minha própria história sertaneja...
A foto é minha e foi tirada durante uma dessas releituras-pesquisa-participante que depois compartilharei alguns momentos com vcs por aqui.
Por enquanto fiquem com a poesia.
Abraços.




N´algum espinho daqui

O sangue deixei estampado

Ligando o tabuleiro da Serra

Ao meu coração desarmado

Uma tapeçaria sem dono teci

Com a sorte de fio brocado

Uma lida de sonho e de amor

Tingida pelo fio da dor

Que nem de longe se vê o barrado.



Elina Carvalho

domingo, 30 de maio de 2010

Envelhecendo em um minuto

Esse vídeo vale a pena ser asssitido...ele vem de encontro à reflexão da última postagem.

Assistam e comentem.

Beijos

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Morangos Silvestres


for a long time...

aqui estou eu, depois de quase desistir desse lance exigente de alimentar blogs, cuidar de casa, filho, marido, gatos e afins, resolvi voltar a essas plangentes terras. volto em alto estilo, pra comentar um dos filmes mais lindos que assisti na vida: Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman. É um filme feito na década de 1940 que mostra com leveza a profundidade do ato de envelhecer, de rever valores e posturas construídas ao longo do tempo. Fiz uma leitura de minha própria vida ao ver o filme e me vi daqui a 40 anos, já velha, com as minhas preguiças, meus ranços de preconceitos (sim, todos nós temos), minhas reclamações...tive medo de continuar errando assim e ao envelhecer me arrepender. A fotografia é impecável, com foco existencial bastante definido nas expressões dos atores, o cenário que não é rebuscado, mas se impõe com externas ambientadas em casas européias antigas, lindas estradas...vale a pena assistir, vai nos conduzindo pela mão, nos convidando a adentrar em nosso próprio mundo, em nossas escolhas de vida...


domingo, 11 de abril de 2010

Quero

Drummond

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que
[me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.

Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,

a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,

amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas
[de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

sábado, 10 de abril de 2010


O Carnaval de Bandeira

Manuel Bandeira





VULGÍVAGA


Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!

Não sei entre que astutos dedos
Deixei a rosa da inocência.
Antes da minha pubescência
Sabia todos os segredos...

Fui de um... Fui de outro... Este era médico...
Um, poeta... Outro, nem sei mais!
Tive em meu leito enciclopédico
Todas as artes liberais.

Aos velhos dou o meu engulho.
Aos férvidos, o que os esfrie.
A artistas, a coquetterie
Que inspira... E aos tímidos — o orgulho.

Estes, caço-os e depeno-os:
A canga fez-se para o boi...
Meu claro ventre nunca foi
De sonhadores e de ingênuos!

E todavia se o primeiro
Que encontro, fere toda a lira,
Amanso. Tudo se me tira.
Dou tudo. E mesmo... dou dinheiro...

Se bate, então como estremeço!
Oh, a volúpia da pancada!
Dar-me entre lágrimas, quebrada
Do seu colérico arremesso...

E o cio atroz se me não leva
A valhacoutos de canalhas,
É porque temo pela treva
O fio fino das navalhas...

Não posso crer que se conceba
Do amor senão o gozo físico!
O meu amante morreu bêbado,
E meu marido morreu tísico!

O cão sem plumas

João Cabral de Melo Neto



I. Paisagem do Capibaribe

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

Abre-se em flores
pobres e negras
como negros.
Abre-se numa flora
suja e mais mendiga
como são os mendigos negros.
Abre-se em mangues
de folhas duras e crespos
como um negro.

Liso como o ventre
de uma cadela fecunda,
o rio cresce
sem nunca explodir.
Tem, o rio,
um parto fluente e invertebrado
como o de uma cadela.

E jamais o vi ferver
(como ferve
o pão que fermenta).
Em silêncio,
o rio carrega sua fecundidade pobre,
grávido de terra negra.

Em silêncio se dá:
em capas de terra negra,
em botinas ou luvas de terra negra
para o pé ou a mão
que mergulha.

Como às vezes
passa com os cães,
parecia o rio estagnar-se.
Suas águas fluíam então
mais densas e mornas;
fluíam com as ondas
densas e mornas
de uma cobra.

Ele tinha algo, então,
da estagnação de um louco.
Algo da estagnação
do hospital, da penitenciária, dos asilos,
da vida suja e abafada
(de roupa suja e abafada)
por onde se veio arrastando.

Algo da estagnação
dos palácios cariados,
comidos
de mofo e erva-de-passarinho.
Algo da estagnação
das árvores obesas
pingando os mil açúcares
das salas de jantar pernambucanas,
por onde se veio arrastando.

(É nelas,
mas de costas para o rio,
que "as grandes famílias espirituais" da cidade
chocam os ovos gordos
de sua prosa.
Na paz redonda das cozinhas,
ei-las a revolver viciosamente
seus caldeirões
de preguiça viscosa).

Seria a água daquele rio
fruta de alguma árvore?
Por que parecia aquela
uma água madura?
Por que sobre ela, sempre,
como que iam pousar moscas?

Aquele rio
saltou alegre em alguma parte?
Foi canção ou fonte
Em alguma parte?
Por que então seus olhos
vinham pintados de azul
nos mapas?